Responsável pelo cenário, público masculino vive paradoxalmente outra realidade: o crescimento da ocorrência de distúrbios sexuais
Reprodução: Memorial da América Latina
SÃO PAULO, BRASIL — Durante a pandemia, a venda de bonecas infláveis cresceu 90% no Brasil. É o que indica o levantamento Homem &
Sextoys: Dicas de Saúde e Prazer Sexual Masculino realizado pela varejista de sex shop Exclusiva Sex. Feito em outubro, o estudo teve
coletada a participação de 21 lojas brasileiras do segmento erótico.
A análise feita pela varejista teve constatado que foram comercializadas em 2020 um total de 294 bonecas infláveis, contra 87 no ano de 2019.
“Esse segmento de produto já era usado. As bonecas infláveis só ficaram mais acessíveis”, destaca a sexóloga e psicoterapeuta de casal Lelah
Monteiro.
Tal fato contribuiu para que a pandemia ocasionasse uma procura intensa pela boneca inflável. Porém, o produto não foi o único que teve boa
venda no período. A partir do estudo Homem & Sextoys: Dicas de Saúde e Prazer Sexual Masculino foi identificado que outro objeto erótico também
teve grande procura pelo público masculino durante o tempo de isolamento.
De acordo com a verificação feita pela Exclusiva Sex, outro sex toy que foi amplamente buscado pelos homens é o masturbador. No auge da
quarentena, a lojista vendeu 70 desses objetos em 24h. Como um todo, desde março a venda desse item teve um aumento de 61% no Brasil.
Desde o início do isolamento social proposto pelo Governo Federal, passaram-se sete meses. Nesse tempo, a rotina não só dos brasileiros, mas ao
redor do mundo, foi reorganizada em função da prevenção do Coronavírus.
Mesmo assim, a procura por masturbadores continua alta pelo medo das pessoas em se relacionar. “A grande maioria solteira, por incrível que
pareça, após a pandemia quer sair e ir a bares e restaurantes. Porém, ainda tem medo de se relacionar”, avalia a diretora de vendas da Exclusiva
Sex, Camila Gentile.
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A pandemia acabou por trazer mudanças no estilo de vida e de comportamento das pessoas. E o ato de se relacionar é apenas um dentro desse amplo
escopo de transformações trazido pelo Coronavírus. A partir dele, o sexo também teve mudanças na forma como é visto e exercido.
Foi por meio do isolamento social como tentativa de prevenir o contágio da Covid-19 que o sexo casual passou a ser repensado. Afinal, a cada
novo contato com quem não está em isolamento social, maior o risco de se infectar com o vírus. “Por conta disso, o uso da imaginação na hora do
sexo, conhecido popularmente como fantasia sexual, passou a ser mais explorado. E uma boneca inflável, por exemplo, pode se transformar em uma
parceira sexual, mesmo que seja de forma casual, e com uma grande vantagem: sem o risco de se infectar”, analisa o sexólogo e presidente da
ABRASEX (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual), Paulo Tessarioli.
Objetos como boneca inflável e masturbador são apenas um indicativo de outro cenário destacado pela pandemia, o interesse do público masculino
por sex toys. Porém, o estudo Homem & Sextoys: Dicas de Saúde e Prazer Sexual Masculino teve identificado que essa realidade não é resultado
apenas do isolamento social. Afinal, o consumo de produtos eróticos por homens cresceu, no Brasil, 30% nos últimos cinco anos.
Atualmente é possível constatar que o homem entendeu que o uso de itens eróticos tem a finalidade de melhorar o relacionamento a dois. “Acredito
que o aumento do consumo de produtos eróticos pelo público masculino seja atribuído ao fato de que o homem passou por uma mudança radical de
pensamento. Hoje, por exemplo, temos homens que visam muito o prazer da mulher”, observa a diretora de vendas da Exclusiva Sex, Camila Gentile.
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A mulher, por sua vez, também tem experimentado, durante a pandemia, os sex toys. Entre os meses de março e maio, a pesquisa O Mercado Erótico e
a Pandemia teve identificado um aumento de 50% na busca desse público por vibradores no Brasil. Esse cenário mostra, portanto, que a pandemia
também acabou por afetar a libido das pessoas.
O período da pandemia, portanto, lançou um desafio, que é o de manter e viver as experiências do isolamento social. Mas não só isso. Foi nesse
momento que as pessoas descobriram outras formas de sentir prazer. “Foi a partir desta situação que muitas pessoas ‘descobriram’ a masturbação,
prática sexual perseguida e desestimulada por uma pseudociência que insiste em perpetuar mitos e tabus sexuais, algo que é um grande desserviço
à sexualidade”, critica o sexólogo e presidente da ABRASEX (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual), Paulo
Tessarioli.
Contudo, não foi apenas a masturbação que foi descoberta em tempos de pandemia. Desde o início do conflito travado contra o Coronavírus, a
comunidade médica brasileira tem observado um aumento no número de consultas de pacientes homens com distúrbios sexuais, tais como disfunção
erétil e ejaculação precoce.
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As causas desses diagnósticos podem ser múltiplas, afinal, uma coisa que o período pandêmico enalteceu nas pessoas foi a sensação de estresse.
Mas existe outro motivo para tais sintomas. “Ambos os distúrbios têm origem psicológica e apresentam uma forte relação com a ansiedade, sendo
causados ou então agravados por ela”, explica o urologista e andrologista Paulo Esteves.
Apesar de esses distúrbios acometerem homens de etapas etárias que vão desde a adolescência até a velhice, Esteves aponta que foi nítido um
aumento do número de adultos jovens, abaixo de 40 anos, preocupados com a questão sobre os distúrbios sexuais.
A questão dos distúrbios sexuais é outra ponta do espectro relacionado à saúde sexual masculina. Afinal, o que o aumento da procura de
masturbadores por esse público mostrou foi uma maior aceitação que os homens passaram a ter com relação ao consumo de sex toys. “Vejo esse
evento como algo positivo, porque ajuda a desconstruir o mito de que homens sabem tudo a respeito de sexo”, opina Tessarioli.